sábado, 21 de maio de 2011

As Independências na América Espanhola

Qual o papel do Brasil na América Latina?
" O processo de independência na América espanhola foi diferente do ocorrido na América portuguesa? Refletir sobre as semelhanças e diferenças entre os dois processos significa um ponto de partida para a análise de inserção do Brasil no conjunto da América Latina. O que nos une aos demais países latino-americanos e o que nos separa deles? A unidade latino-americana foi um sonho acalentado desde o tempo das independências. Qual a importância da união latino-americana tanto no passado como no presente? "


PREPARANDO O CENÁRIO DAS INDEPENDÊNCIAS


O desenvolvimento econômico capitalista, o triunfo do liberalismo, o imperialismo e a efervescência nacionalista e socialista europeias também envolveram as Américas no século XIX, seguindo, porém, as peculiaridades históricas regionais. Conquistadas e colonizadas por europeus, as Américas (do Sul, Central e do Norte) exerceram e continuaram exercendo um decisivo papel no desenvolvimento capitalista ocidental, especialmente com o crescente e volumoso comércio transatlântico e, mais tarde, entre o Norte e o Sul do próprio continente americano. As independências políticas latino-americanas não resultaram em desenvolvimento socioeconômico autônomo, e sim em dependência em relação aos centros dinâmicos do capitalismo, especialmente Inglaterra, no ínício, e Estado Unidos, a seguir. No final do século XIX, este país, já então poderoso economicamente e acompanhado o expansionismo imperialista europeu, impôs seu controle geopolítico sobre boa parte dos assuntos americanos, processo que se completaria no início do século seguinte.
Na passagem do século XVIII para XIX , com o declínio do Antigo Regime, o liberalismo político e econômico forneceu a base ideológica para a superação definitiva dos entraves que barravam o progresso capitalista. Enquanto os Estado Unidos lutavam por sua independência, as metrópoles ibéricas continuavam envolvidas com as práticas mercantilistas e colonialistas, que dificultavam o livre comércio e o desenvolvimento manufatureiro, requisitos fundamentais para a autonomia e sucesso econômico no mundo da época. Foi nesse período que, em represália à não-obediência ao bloqueio do continental, as tropas napoleônicas invadiram Portugal e ocuparam a Espanha, desencadeando o processo de independência da América Latina.
Os criollos, membros das elites hispanos-americanas, desejavam romper com a metrópole monopolista, que lhes dificultava as transações mercantis, sobretudo com a Inglaterra, principal pólo econômico do mundo. Para os colonos, a Coroa espanhola restringia os setores produtivos, além de limitar o acesso aos cargos administrativos e políticos. Para a Inglaterra, por outro lado, interessava a independência das colônias, uma vez que eliminaria as barreiras monopolistas comerciais e ativaria novos mercados, indispensáveis ao seu progresso industrial. Criollos e ingleses tinham, portanto, interesses comuns, que convergiam para o mesmo objetivo: a independência das colônias espanholas na América. Os chapetones, grupo minoritário da América espanhola (300 mil indivíduos) composto por espanhóis nascidos na metrópole, detinham os mais altos cargos da administração colonial, confrontando-se com a elite local. Os chapetones desejavam a manutenção das relações metrópole-colônia, enquanto os criollos, seguidores dos ideais iluministas liberais e do exemplo norte-americano, eram partidários do livre comércio e da luta pela independência, embora não cogitassem mudanças na estrutura socioeconômica.
De um lado, as rebeliões locais, as manifestações isoladas, sinalizavam o esgotamento do sistema colonial. De  outro, eram manifestações dos vários projetos de independência. Na luta contra a opressão metropolitana destacaram-se a rebelião de Túpac Amaru (1780), no Peru, e a de Francisco Miranda (1811), na Venezuela.


Francisco Miranda, criollo venezuelano, foi o primeiro a liderar um movimento temporariamente vitorioso de libertação: a Venezuela proclamou sua independência em 1811. Em 1812, entretanto, numa contra-ofensiva do exército espanhol, os conjurados foram derrotados e Miranda foi preso, morrendo pouco depois em Cádiz, na Espanha.


AS GUERRAS DA INDEPENDÊNCIA


O enfraquecimento da metrópole espanhola, com a intervenção napoleônica e as renúncias sucessivas dos reis da família Bourbon, Carlos IV e Fernando VII, e a coroação do irmão do imperador francês, José Bonaparte, estimularam o movimento autonomista liderado pelos criollos. Organizados em cabildos (câmaras municipais), os colonos formaram juntas governativas, depondo as autoridades metropolitanas e assumindo a administração das colônias. Entre 1810 e 1814, os centros urbanos coloniais hispano-americanos transformaram-se nos grandes irradiadores dos ideais separatistas, contando com o apoio inglês e a adesão de parte da população.
A revolução que libertaria a maioria dos paises latino-americanos aconteceu entre 1817 e 1825, tendo como líderes Simón Bolívar e José de San Martín, que percorreram quase toda a América Latina, com o apoio efetivo da Inglaterra e dos Estados Unidos. Os rebeldes foram favorecidos ainda pela distância da metrópole e pela situação interna da Espanha, envolvida numa revolução liberal entre 1820 e 1823, o que dificultou a remessa de tropas contra-revolucionárias à América.


Simón Bolívar, que ficou conhecido como "o libertador", foi um exemplo típico dos ideais da elite criolla. Nascido na capitania-geral da Venezuela, republicano, comandou a luta pela libertação da América Latina, partindo dos atuais territórios da Venezuela e do Peru em direção ao sul, defendendo uma América do Sul livre, unida e forte. San Martín, embora com os mesmos ideais, defendia um governo monárquico constitucional e iniciou seus movimentos partindo de Buenos Aires em direção ao norte, no chamado "movimento sulista".


José de San Martín


Em 1810, ocorreu a primeira tentativa de emancipação política no México ( na época, vice-reinado da Nova Espanha), distinguindo-se dos outros movimentos da América Espanhola, pois partiu das massas populares e foi predominantemente rural. Encabeçando a insurreição, sucederam-se Miguel Hidalgo, o padre Morellos e o Vicente Guerrero, que enfatizaram as reformas sociais populares, propondo o fim da escravidão, a igualdade de direitos e a condenação da aristocracia fundiária e dos altos funcionários.

Vicente Guerrero


Enviado pelo vice-rei para lutar contra os insurretos mexicanos, Agustín Itúrbide aliou-se de forma oportunista a Guerrero, em  1821, formulando o plano de Iguala, que proclamava a independência do México, a igualdade de direitos entre criollos e espanhóis, a supremacia da religião católica, o respeito à propriedade e um governo monárquico. A Coroa foi oferecida a Fernando VII da Espanha, que sofria forte oposição liberal em seu país, confirmando o projeto de uma independência  feita pelas mesmas elites (criollos e chapetones laicos e o clero) que dominavam o México na fase colonial.

Agustín Itúrbide


Em 1822, entretanto, Itúrbide proclamou-se imperador, como título de Agustín I, sendo deposto e fuzilado logo a seguir num levante republicano. Em 1824, o México tornava-se efetivamente independente e elegia seu primeiro Presidente, o general Guadalupe Vitória, sem que fosse minimamente arranhada a estrutura agrária e social que mantinha a maioria da população submetido ao controle das elites mexicanas.
Na América do Sul, o Paraguai constituiu uma República em 1813, chefiada pelo criollo Gaspar Francia. A atual Argentina proclamou sua independência em 1816, que, entretanto, só seria consolidada pelos êxitos militares de Manuel Belgrano e San Martín. O Uruguai, que desde 1821 estava incorporado ao Brasil com o nome de Província Cisplatina, transformou-se em Estado independente, em 1828, com  o nome de República Oriental do Uruguai.
O Chile foi libertado por San Martín, à frente de cerca de 5 mil homens no chamado Exército dos Andes, em 1818, após as batalhas de Chacabuco e Maipú. Bernardo O'Higgins, líder do movimento de libertação na região, foi nomeado dirigente do Estado chileno.
Dirigindo-se para o Peru, acompanhado pelo mercenário inglês lorde Cochrane, San Martín alcançou e libertou Lima, principal centro de resistência espanhola, em 1821. Simón Bolívar, por sua vez, apoiado pela Inglaterra e pelos Estados Unidos, organizou um exército regular e libertou a Venezuela em 1817, a Colômbia em 1819 e o Equador em 1821, dirigindo-se ele também ao Peru.
As forças de ambos encontraram-se em Guayaquil, no Equador, no ano seguinte, quando San Martín desistiu de seu projeto monárquico, aderindo à proposta republicana de Bolívar, a quem coube consumar a independência do Peru, só conseguida definitivamente com a batalha de Ayacucho, em 1824. No congresso do Panamá (1826), quando quase toda a América Latina já estava independente, Bolívar tentou concretizar seu ideal de unidade política, defendendo alianças entre os Estados hispano-americanos, a criação de uma força militar comum e a abolição da escravidão, entre outras medidas.
Inicialmente unida ao México, a América Central proclamou em 1824 a sua independência, formando as Províncias Unidas da América Central, unidade que pouco durou, pois as pressões inglesas e norte-americanas fragmentaram a região, levando à divisão em repúblicas autônomas a partir de 1838: Guatemala, El Salvador, Nicarágua e Costa Rica.
No aspecto político, chefes locais, em geral líderes oriundos das forças militares mobilizadas pelos criollos nas guerras de independência, passaram a disputar o poder de suas respectivas regiões. Tais chefes - comandantes carismáticos, autoritários, personalistas, que irradiavam magnetismo pessoal na condução de seus comandados -  foram denominados caudilhos.
Essa divisão de poderes criou um quadro de anarquia e de dificuldades para a  consolidação dos novos Estados Nacionais. Desunião e instabilidade deram forma ao caos que devorou o ideal de Simón Bolívar de plena soberania e liberdade popular nas novas nações.


      AS INDEPENDÊNCIAS NA AMÉRICA ESPANHOLA

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