terça-feira, 24 de maio de 2011

A América Colonial Espanhola

" A conquista da América pelos espanhóis significou a dizimação de boa parte dos povos nativos e a submissão da cultura daqueles que foram dominados, manifestando uma severa intolerância para com os diferentes modos de viver e ver o mundo das populações pré-colombianas.
Comportamento análogo ao dos espanhóis também se fez sentir no contato que os portugueses tiveram com os indígenas, em sua colônia americana; ou na relação que os norte-americanos travaram com as populações nativas que encontraram o caminho do Oeste dos atuais Estados Unidos, no século XIX. Outro exemplo seria, ainda, o tratamento dispensado pelos alemães aos judeus, durante os anos 30 e 40 do século XX.
Choques entre culturas diferentes são um fenômeno cruel da humanidade, ocorrido em várias épocas e envolvendo vários povos. E em cada caso, a guerra, a exploração econômica e social ou outras formas de violência tornaram-se práticas usuais para o exercício da dominação. Será que, na atualidade, há mais ou menos intolerância e conflitos entre diferentes etnias? Sob os valores da cultura europeia ou norte-americana importada, como se apresentam as culturas pré-colombianas hoje em dia?"


O PACTO COLONIAL E AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS


A integração da América ao contexto europeu se deu por meio do colonialismo mercantilista. O crescimento do comércio europeu a partir do século XV, graças à expansão marítima, provocou uma verdadeira revolução comercial. Tendo definido que seus objetivos econômicos eram acumular ouro e prata, várias Coroas europeias partiram para a montagem e exploração de impérios coloniais.
Desde o princípio, observa-se que as colônias europeias na América tinham uma função econômica bem definida, a de se converterem em parceiras econômicas de suas metrópoles e um comércio essencialmente desigual, isto é,  que resultaria em vantagens para apenas um dos lados. Assim, as nações europeias obteriam na América os recursos para a balança comercial favorável, o que, de outra forma, seria difícil obter na Europa.
Entre colônias e metrópoles foi estabelecido um conjunto de normas que regulamentaram suas relações, o chamado pacto colonial. Segundo essas normas, as metrópoles exerceriam o exclusivo comercial, isto é, o monopólio sobre tudo o que as populações das colônias importassem ou exportassem. Outro princípio estabelecia que, enquanto a metrópole se concentrava no comércio, mais lucrativo, a colônia se dedicaria à produção.
Um lucrativo comércio colonial era fundamental para a prosperidade da burguesia metropolitana e, portanto, da manutenção de um Estado absolutista forte. Foi com esses objetivos em vista que os europeus se estabeleceram na América. Submetendo a população nativa, explorando o seu trabalho, exterminaram grande parte dessas populações, o que causou o declínio de povos evoluídos como os incas da América do Sul e os astecas do México.
Por volta do final do século XV, estima-se que cerce de 100 milhões de indígenas ocupavam a América, incluindo povos em diferentes graus de desenvolvimento tecnológico, desde antropófagos seminômades até avançadas civilizações urbanas. Os chamados incas eram chefiados por um imperador que, além de chefe militar, era considerado um deus na terra, o ''filho do sol''. O auge desta civilização ocorreu nos séculos XV-XVI , entre 1438 até a chegada dos espanhóis à região, em 1531.

Ruínas do Machu Picchu

Em todo o império, viviam e trabalhavam aproximadamente seis milhões de pessoas. Predominava a servidão  coletiva em uma sociedade fortemente hierarquizada. A terra era considerada propriedade do imperador, administrativa por funcionários locais, que, em todas as aldeias, determinavam a organização do trabalho, o montante dos impostos destinados ao imperador e a mita, trabalho compulsório em obras públicas ( incluindo obras de irrigação e "terraços" cultiváveis nas íngremes encostas das montanhas andinas, garantindo a produção de excedentes agrícolas e, em última análise, a própria sobrevivência do povo inca).
A civilização tinha o seu centro na península de lucatã, na região Sudeste do atual México, e conheceu seu apogeu entre o séculos III e XI. Organizava-se em cidades-estado, como Palenque, Tikal e Copan. O domínio social era exercido por uma elite religiosa e militar de caráter hereditário. Em torno dos centros urbanos, encontravam-se aldeias de camponeses submetidos à servidão coletiva. Pouco se sabe a respeito das causas da decadência maia. Suas cidades foram abandonadas e, na época da chegada dos espanhóis, não mais existia uma civilização maia organizada.
A civilização asteca foi a mais grandiosa das civilizações da Mesoamérica. Os astecas chegaram a controlar um império que se estendia do Oeste mexicano até o Sul da Guatemala, incluindo uma população de talvez 12 milhões de habitantes. Sua capital, Tenochtitlán (atual cidade do México), cobria uma área de 13km²,  e chegou a ter mais de 100 mil habitantes.
O império Asteca foi formado no século XV, tendo entrado em decadência com a invasão espanhola. O último imperador, Montezuma II, assistiu à destruição do império e de sua bela capital durante a conquista promovida pelo espanhol Fernão Cortez, entre 1519 e 1521.

A AMÉRICA ESPANHOLA

A ideia de expansão da fé católica por meio da conversão dos indígenas foi utilizada como justificativa para a exploração da América. Até o final do século XVI, os europeus já haviam subjugado os grandes impérios inca e asteca, por força de sua agressividade, superioridade técnica militar ( uso de armas de fogo e cavalos, desconhecidos na América até então ) e até habilidade política, ao fazer e desfazer alianças, jogando povos indígenas uns contra os outros. As doenças europeias, desconhecidas dos nativos e para as quais seus organismos não possuía resistências, também foram responsáveis pelo extermínio de grande número deles.
Durante os primeiros dois séculos da colonização, XVI e XVII, os espanhóis se concentraram na extração de metais preciosos (ouro e prata do México e Peru), denotando o caráter da exploração das colônias hispânicas. Cumpriam-se os objetivos das práticas mercantilistas, com a transferência das riquezas coloniais para a metrópole espanhola.

Explorava-se o trabalho indígena por meio da mita, instituição já existente no Império Inca. Afastados de suas comunidades, os indígenas eram forçados a trabalhar nas minas, recebendo em troca um salário irrisório e tornando-se vítimas das péssimas condições de trabalho, o que os levava à morte. A larga utilização da mita acabou por arruinar a estrutura comunitária indígena.
Outra forma de exploração do trabalho foi a encomienda, bastante empregada pelos espanhóis, desde os primeiros anos de colonização. O rei da Espanha, por meio dos administradores coloniais, distribuía a encomenderos, obrigatoriamente espanhóis estabelecidos na América, o direito de explorar o trabalho de indígenas, devendo em troca oferecer-lhes uma educação cristã.
A sociedade colonial, hierarquizada, era controlada pelos chapetones, espanhóis provenientes da metrópole que cuidavam da administração, justiça, clero e exército. Abaixo deles, estavam os criollos, verdadeira aristocracia colonial, formada por homens brancos, descendentes de espanhóis, porém nascidos na América. Eram grandes proprietários de terras ou dedicavam-se ao comércio. Politicamente detinham um espaço de atuação em âmbito local, uma vez que exerciam o controle sobre as câmaras municipais (os chamados cabildos ou ayuntamientos).
Numa posição inferior, encontravam-se os mestiços, nascidos da união de espanhóis com indígenas. Eram trabalhadores livres. diferentemente dos indígenas, submetidos à mita e à encomienda. Finalmente, existia um limitado número de escravos negros, em sua maior parte concentrados na região do Caribe.
Do ponto de vista administrativo, o gerenciamento da colonização era feito na Espanha, por meio do Conselho Real e Supremo das Índias, cujo representantes nas colônias eram os chapetones. A atividade comercial e a arrecadação de impostos eram realizadas pela Casa de Contratação que, para melhor controlar o comércio colonial, instituiu o regime do ''porto único''.

O conselho das Índias nomeava os vice-reis e fiscalizava sua administração. Dentro de cada vice-reinado existiam divisões administrativas chamadas intendências, governadas pelos alcaides. As cidades mais importantes possuíam suas próprias câmaras municipais, e não eram raros os choques entre elas (controlada pela elite criolla) e os alcaides e demais autoridades representadas pelos chapetones.
A crescente prosperidade econômica da América foi grande fator gerador de tensões entre criollos e chapetones. De fato, grande parte da riqueza produzida, notadamente os metais preciosos, era transferida para a metrópole, em prejuízo das colônias. Ao mesmo tempo, a autoridade total dos chapetones sobre os criollos e o veto à participação destes na administração colonial (além da municipal) culminariam, no século XIX, com o movimento de independência da América Espanhola.



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